O Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio das Velhas (CBH Rio das Velhas) debateu pautas de equidade e estratégias para a gestão hídrica no 1º Fórum Brasil das Águas, realizado em Foz do Iguaçu (PR). Durante cinco dias, de 05 a 09 de agosto, a presidenta do Comitê, Poliana Valgas, e membros da Câmara Técnica de Educação, Mobilização e Comunicação (CTECOM) participaram de rodas de conversas e oficinas de capacitação.
Membros do CBH Rio das Velhas, junto a diversas entidades da gestão hídrica, puderam trocar experiências, estabelecer estratégias, incentivar ações de capacitação, mobilizar lideranças jovens e propor parcerias para ampliar o diálogo sobre as águas brasileiras. Dentre os assuntos abordados no evento, as políticas públicas vigentes, as mudanças climáticas em curso, a regulação e financiamento de obras e serviços e a pluralidade de pautas sociais, como gênero e equidade, tiveram destaque.
A presidenta do CBH Rio das Velhas, Poliana Valgas, participou do painel “A equidade de gênero na Gestão das Águas” e compartilhou experiências em relação à participação feminina dentro dos Comitês, mas reconheceu que existem paradigmas a serem vencidos. “Ainda temos um longo caminho a percorrer em termos de equidade. Atualmente, a proporção de 70% homens para 30% mulheres persiste, o que demonstra que ainda há muito a ser feito. Embora o CBH Rio das Velhas e a diretoria já apresentem algum progresso, com a presença de duas mulheres e dois homens, além de um equilíbrio nas câmaras técnicas, com duas mulheres e dois homens coordenando, os números do plenário ainda revelam uma disparidade significativa. Isso evidencia a necessidade urgente de avançarmos mais em direção à equidade”.
Durante o debate sobre equidade, a realidade “70/30” foi algo visto que se repete em outros Comitês, comissões e representações. Poliana Valgas enfatizou a necessidade de elaborar e praticar estratégias mais robustas que promovam não só a participação feminina, mas também a identificação de diferentes grupos para a causa. “Primeiro que a realidade é a mesma, e segundo que a gente precisa buscar estratégias mais sólidas para poder aumentar e ter essa equidade em todos os sentidos. Então, a questão dos povos originários, a participação deles dentro do Comitê, jovens, mulheres, isso precisa ser levado em conta”. A presidenta destacou a importância de um “olhar detalhado” para mapear e entender quem está envolvido no processo e identificar aqueles que estão sendo excluídos. “É crucial entender quem são essas mulheres que estão fora — se são ribeirinhas, negras, quilombolas — para criar estratégias de comunicação mais assertivas e trazer essas pessoas para o próximo processo eleitoral,” explicou. Segundo ela, mapear e estudar essas lacunas são passos fundamentais para garantir que a Política Nacional de Recursos Hídricos, com sua proposta de gestão participativa e descentralizada, seja verdadeiramente efetiva e inclusiva.”
Além da presidenta do CBH Rio das Velhas, participaram do painel “A equidade de gênero na Gestão das Águas” a diretora do departamento de irrigação do MIDR, Larissa Rego, o diretor da área de desenvolvimento e infraestrutura da Codevasf, Henrique Bernardes, a diretora-presidente da APAC e membro titular do Comitê de Bacia Hidrografica do Rio São Francisco, Suzana Montenegro, o coordenador do Fórum Paulista de CBHs e prefeito de Salesópolis, Vanderlon Oliveira Gomes, a presidenta executiva do Instituto TRATA BRASIL, Luana Siewert Pretto, o diretor presidente da AESA, Porfírio Catão, a presidenta do Instituto – Agenda Urbana Brasil, Luciana Figueras, o vice-presidente do CBH Paranapanema, Marco Andre D´Oliveira, e o representante dos Comitês PCJ, Rodrigo Hajjar. A mediação ficou por conta da Superintendente Adjunta da ANA, Renata Maranhão.
Valgas ainda participou de uma outra atividade de equidade promovida durante o fórum. Poliana participou das gravações do documentário “Rainha das Águas”, da produtora Frame 22. O documentário em produção terá 13 episódios de 25 minutos e aprofundará a relação do ser humano com a água e a necessidade urgente de nos reencontrarmos com a natureza em tempos de incertezas climáticas. A produção irá abordar a participação de mulheres na gestão hídrica, explorando diversas realidades de vida, gestão de conflitos e encontros de soluções. A série é descrita como uma reflexão histórica, científica, econômica, tecnológica e também poética, que destaca a sustentabilidade e a justiça ambiental. O documentário está previsto para 2025.
Educação Ambiental
No terceiro dia de programação do 1º Fórum Brasil das Águas, o foco foi a educação ambiental. O painel intitulado “A Educação Ambiental e Capacitação: Fortalecendo a Gestão dos Recursos Hídricos” reuniu especialistas e profissionais para debater como a formação e a conscientização podem aprimorar a gestão dos recursos hídricos no país. A CTECOM, que é encarregada de acompanhar os processos de comunicação e mobilização que estão em andamento no âmbito do CBH Rio das Velhas, esteve presente tanto no painel, como nas oficinas de capacitação realizadas na parte da tarde.
Sérgio Gustavo Leal, coordenador da CTECOM, esteve presente no painel e nas oficinas de capacitação. Para ele, compreender os processos de tomada de decisões, principalmente no que se refere à educação ambiental, é garantir um futuro mais sustentável. “A educação ambiental desempenha um papel crucial na promoção da consciência ambiental entre as pessoas. No contexto dos Comitês de bacia, é essencial que os participantes compreendam a importância de suas decisões e, em alguns casos, da falta delas. O impacto de um Comitê levar um ano para tomar uma decisão sobre questões ambientais demonstra como as escolhas, mesmo as difíceis, são significativas para o futuro. A conscientização ambiental facilita a compreensão e a internalização dessas decisões, tornando-as mais evidentes para as futuras gerações. Isso assegura que, no futuro, as decisões não sejam apenas prerrogativa dos gestores, mas também da sociedade como um todo, que terá um papel ativo na cobrança e na implementação dessas escolhas”, destacou Sérgio.
Sirlene Conceição de Almeida, que também compõem a CTECOM, esteve presente e destacou a participação dos membros na capacitação. “O CBH Rio das Velhas fez uma significativa contribuição com relatos e troca de experiências no processo de gestão das águas. Em termos de equidade de gênero, o Comitê se destacou como o mais equilibrado na paridade entre homens e mulheres em câmaras técnicas, comparado à maioria dos comitês no Brasil. E por sua vez, a CTECOM também desempenhou um papel crucial, trazendo para a capacitação sua experiência nas ações de mobilização e educação ambiental dos subcomitês, na participação social na elaboração do Programa de Educação Ambiental do CBH Rio das Velhas, e na contribuição com propostas durante a oficina realizada no evento para desenvolver o Programa de Educação Ambiental da ANA na gestão das águas”, afirmou Sirlene.
Avaliações
O Fórum Brasil das Águas se mostrou um espaço extremamente necessário para haver troca de experiências entre diferentes esferas da gestão hídrica. Lupércio Ziroldo, presidente da Rede Brasil de Organismos de Bacia- REBOB, ressalta que “a realização do 1º Fórum Brasil das Águas fortaleceu a integração de todos os entes de nosso Sistema de Recursos Hídricos, apontando os avanços e debatendo sobre os desafios, mostrando que o diálogo e a troca de experiências são essenciais para desenvolver políticas públicas eficazes na construção de um futuro sustentável para os recursos hídricos”.
Já a secretária executiva da REBOB, Suraya Modaelli, ressaltou a participação de técnicos no evento: “Nossa expectativa foi superada, houve muitos representantes de usuários, de comitês de bacias e, em especial, a participação dos técnicos dos órgãos gestores. Os painéis foram de alto nível e as reuniões paralelas foram construídas com bastante diálogo. O sistema precisava de um espaço mais técnico para troca de experiências e consolidação de pactos, e nós obtivemos isso com o fórum”, concluiu Suraya.
A presidente do CBH Rio das Velhas, Poliana Valgas, avalia que vários objetivos foram alcançados e que a troca de experiências trará novos esforços para fortalecer a gestão hídrica de maneira abrangente. “Nosso objetivo foi reunir diversos atores para discutir os desafios locais na gestão de recursos hídricos em todo o país, e conseguimos atingir essa meta. O evento destacou uma realidade comum em muitas regiões do Brasil, especialmente em relação aos desafios enfrentados na gestão hídrica. A realização desses debates foi essencial para avançarmos na busca de soluções mais efetivas. Saímos daqui com muitos aprendizados, contatos e projetos”, comemorou Valgas.
Fonte: CBH Rio das Velhas
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