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Sumário da água

Blog da REBOB

A menina do dedo Verde

“O homem que planta árvores, sabendo que nunca se sentará à sombra delas, começou a entender o significado da vida”. (Rabindranath Tagore)



A minha história com as árvores, plantar e vê-las crescerem, começou desde os meus tempos de criança. Nasci numa fazenda, cercada de árvores, montanhas, cerrados e plantações de lavouras, em Minas Gerais. Meu pai, não teve oportunidade de frequentar escolas, porém sabia o valor da natureza, das árvores, das nascentes e o amor que toda pessoa deveria dar a esta riqueza que Deus nos deixou, para cuidar e zelar. Era dela que ele tirava o sustento de sua família. Ele saía para o meio do mato nos ensinando o nome das árvores e suas utilidades. Explicava que madeira de lei não podia cortar, só por necessidade. Era uma serra com todas as qualidades de árvores como: angico, peroba, pau d’óleo, ipê de todas as cores, aroeira, cedro, as do Cerrado: mangaba, barbatimão, capitão, pororoca, ipê caraíba e as frutas: algodãozinho, cajuzinho, gabiroba, cagaita, mata-a-fome, goiabinha, entre outras. Explicava que as nascentes precisavam ser protegidas pelas as árvores, para elas não secarem, porque as raízes seguravam a terra para que ela não desbarrancasse. Era para nós observarmos, que todos os córregos da região seguiam juntas muita vegetação rasteira e as árvores, ao seu redor. Ele sabia qual água de nascente que podíamos beber e a qual não podíamos. Aquela que tinha Lodo Verde era boa; e a que tinha o Lodo Vermelho não podíamos, porque a ferrugem fazia mal. Então, depois de várias destas aulas, foi brotando em mim, o desejo de como plantar árvores. Veio a explicação das sementes: precisávamos colher as sementes e semeá-las em um canteiro, perto de casa, como se fosse uma horta e regá-las todo dia, de manhã e de tarde. Aí, quando chegasse o tempo das chuvas era só plantar, onde tivesse espaço, que elas cresciam... Assim, fizemos uma lavoura de pés de mangas de todas as qualidades. Desde a comum até a espada, coração-de-boi, maçã, araçá, rosa, doce-de-leite entre outras.


Isso foi até os meus sete anos. Tínhamos que mudar para a cidade, para entrar na escola. Mas, era um sítio. Em cidades do interior são cheias de sítios ao redor. Aí, era a casa da cidade e a casa da fazenda. Continuei a plantar. Tem a história da paineira, que era minha amiga. Fiz até um poema para ela.


Mas, fui fazer o primeiro curso de Educação Ambiental quando assumi a SEEDF, com a Professora Flávia Barbosa, do Gama, em 2000. De lá para cá tenho me atualizado com o Tempo de Plantar, desde 2019, lendo muito sobre o Cerrado e os outros biomas brasileiros. Por onde passo deixo muitas árvores plantadas, mesmo sabendo que talvez nunca irei me sentar às sombras delas, como diz a epígrafe do início do texto. Continuo plantando pés de mangas, em canteiros públicos, pois sei que vão alimentar muita gente com insegurança alimentar. Em dezembro de 2021, passei pela quadra 1209, Cruzeiro Novo, onde há 14 anos plantei uma muda de manga. Achei uma linda muda, numa caminhada pelo Cruzeiro Velho e levei, porque sabia que havia um berço, cuja muda que alguém plantou no canteiro central da quadra, não vingou ou foi retirada por uma pessoa desavisada. Essa muda virou uma árvore gigante e todos os anos ela floresce e dão centenas de mangas comum, deliciosas e enormes. Na época que as mangas começam a crescer, alguém leva um bambu com um sexto e deixa lá, para quem quiser colher as mangas. Cheguei lá, tinha um casal de moradores de rua, colhendo-as. Quando fui chegando eles ficaram ressabiados... Eu disse pode continuar colhendo! Esta mangueira fui eu que plantei. Eles disseram: - Nossa, a senhora tem as mãos abençoadas, pois todo ano matamos a nossa fome, aqui nesta sombra. Eu disse: - Fico feliz em saber... Desta vez, colhi bastante... levei algumas para a amiga, Mírian, que pediu para eu escrever este texto.


Porém, não foi só a mangueira que plantei, na 1209, do Cruzeiro Novo. Nas laterais do Bloco C, que morei, não havia nada plantado. De um lado plantei ipês: branco, amarelo e rosa. O amarelo deu um cacho o ano passado. O rosa virou uma árvore que está do tamanho do poste, deve florir este ano. O branco está crescendo tanto, que eu olho e penso: fui eu que plantei... mas, este ipê branco tem uma história muito interessante: Todas as vezes que eu passava por lá, as formigas haviam cortado todas as folhas, ficava só a vareta da muda. Então, lembrei-me de minha amiga e colega de trabalho, Nilvânia. Certa vez, a convidei para um café na minha casa. Na janela da cozinha havia plantado, em num vaso, cebolinha e em volta, hortelã. Ela disse: - Nossa, Ana! Que encanto! Você fez a coisa certa! Você sabia que os insetos não gostam de cheiros das ervas aromáticas? Eu disse, que não sabia, mas adorei saber! Peguei uma muda de manjericão e plantei junto do ipê branco. As formigas, nunca mais apareceram por lá e o ipê branco está virando uma bela árvore. Continuando a história das minhas plantações: do outro lado do bloco fiz um pomar: abacate, mixirica, graviola duas mudas. Alguém está cuidando, colocando frases educadoras. E por último plantaram um coqueiro. Convido a quem quiser visitar...


Depois mudei para a quadra 1205, já plantei ipês na frente. Agora que reflorestei, por onde passei... Vou-me embora para João Pessoa-PB. Quem sabe, um dia, eu voltarei para visitar a floresta, que plantei para a humanidade! Por fim, agradeço ao meu primeiro mestre, meu pai, Sr João Feira, que desde 2004, está no céu. Que por uma ironia, foi mestre, sem os bancos de Escola.


Sou Ana Maria dos Reis, professora aposentada, mas atuante como escritora: Ana Magalhães. Faço parte do Tempo de Plantar desde 2019, no Comitê Sudoeste/Octogonal. Plantamos muitas árvores no Bosque do Sudoeste e passamos a cuidar delas. Em 2021, plantamos também no Parque das Sucupiras.




Ana Magalhaes com o também escritor Kamuu Dan no planejamento do Tempo de Plantar 2020
Ana Magalhaes com o também escritor Kamuu Dan no planejamento do Tempo de Plantar 2020
Encerramento do Evento Artexposição do Tempo de Plantar no Bosque Urbano do Sudoeste em setembro de 2021
Encerramento do Evento Artexposição do Tempo de Plantar no Bosque Urbano do Sudoeste em setembro de 2021
Ana Magalhães plantando no Parcão no Cruzeiro – DF em dezembro de 2020.
Ana Magalhães plantando no Parcão no Cruzeiro – DF em dezembro de 2020.

Ana Maria dos Reis Cunha Magalhães https://www.facebook.com/public/anacunhamagalhaes.cunha

anacunhamagalhaes@gmail.com @tempodeplantarbrasil

Escritora e fundadora da Academia Cruzeirense de Letras Livros publicados: Saga Mineira (2006); Supravida - contos e crônicas (2011); Minha alma azul – poesias (2006); Sertão de Maravaia – romance regionalista (2014); Branda Brisa, 2017; Escola de joaninhas – poesias infantis (2018); Zezin e Quizin na Sustentabilidade (2018).


Texto desenvolvido com a colaboração de Mirian Regina Patzlaff.

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