Jogar papel higiênico no vaso sanitário em diversos países do mundo é uma prática comum. No Brasil, o assunto é um pouco mais delicado, pois o sistema de saneamento é garantido para um pouco mais da metade dos brasileiros. Segundo o Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS), cerca de 56% da população conta com o atendimento de redes coletoras de esgotos.
O químico industrial da Companhia de Saneamento do Paraná (Sanepar), Gilmar Javorski Gomes da Cruz, diz que nas grandes cidades, principalmente no sudeste e no sul do país, a realidade é um pouco melhor. “Em Curitiba, aproximadamente 92% é tratado”, explica.
A falta de garantia de esgoto para boa parte da população, junto a outros aspectos importantes, faz com que a companhia não incentive o descarte do papel higiênico no vaso sanitário. “Nossa posição é de que há mais inconvenientes que vantagens no descarte do papel na tubulação de esgoto”, afirma Cruz.
Segundo ele, em outros países, onde o papel é jogado no vaso, o saneamento básico é garantido a quase 100% da população. Por aqui, as pessoas só poderiam fazer o mesmo se tivessem certeza de que o esgoto é tratado e coletado devidamente.
Para detalhar os prós e contras em jogar papel no vaso sanitário, o químico industrial faz algumas observações sobre o assunto. Confira o parecer na íntegra:
1. O descarte no vaso sanitário tem a vantagem de afastar rapidamente o resíduo, evitando manipulação e possíveis contaminações, já que não há armazenamento em lixeiras, coleta manual e transporte na via urbana;
2. Caso o papel higiênico seja encaminhado para um aterro sanitário, devidamente adequado às normativas pertinentes, não haverá contaminação ambiental;
3. Na rede coletora pública de esgotos dificilmente haverá problemas;
4. No tratamento de esgoto poderão ocorrer inconvenientes, mas a perspectiva é de que sejam de pequena escala. O parecer da Sanepar diz o seguinte: “o principal [inconveniente] é de que no Brasil o sistema de tratamento de esgotos domésticos é projetado para tratar 54 g por dia de DBO (demanda bioquímica de oxigênio) por habitante. Na composição deste parâmetro não são consideradas contribuições decorridas do lançamento de papel higiênico juntamente com o esgoto. A presença de concentrações consideráveis de lignina [presente no papel] poderá acarretar complicações para a estação de tratamento. Outros componentes, como oxidantes e materiais insolúveis, podem alterar a dinâmica do tratamento”.
5. Podem ocorrer entupimentos nas instalações intradomiciliares, principalmente em imóveis com tubulações fora dos padrões ou muito antigas;
6. Para não ocorrer entupimentos, o usuário terá que dosar o consumo de papel e a tendência é que seja consumida mais água com descargas repetidas;
7. Caso a sociedade e a estrutura estivessem preparadas para jogar o papel higiênico no vaso, o ponto crítico da questão seria conscientizar a população para um novo hábito. As pessoas teriam que ser educadas para jogar apenas o papel higiênico no vaso, enquanto deveriam continuar fazendo o descarte de outros resíduos na lixeira, como absorventes, fraldas, cotonetes, preservativos, embalagens de perfumaria, etc.
8. No Brasil, pouco mais da metade do esgoto gerado é coletado e nem todo ele é tratado. Por isso, antes de lançar o papel no vaso, o usuário teria de se certificar se o seu esgoto é coletado e tratado. Esse é um complicador importante, pois a mudança de cultura atingiria toda a sociedade, mas os serviços de esgoto não estão universalizados.
Fonte: Planeta Água / Docol