Em plena polêmica da construção de um muro entre os dois países, tratados de água unem os Estados Unidos e o México. A hidro diplomacia garante o compartilhamento dos recursos hídricos sem conflitos extremos.
A polêmica construção do muro separando os EUA e México está na pauta central do presidente Donald Trump. Mas não há como separar a água compartilhada.
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, insiste na construção de um muro para barrar a entrada de imigrantes através da fronteira do México. Enquanto o mérito da separação é discutido, México e Estados Unidos compartilham um grande corredor da biodiversidade. Esse compartilhamento tem sido uma questão de cooperação entre os dois países há muitos anos.
A água é tema prioritário nessa agenda bilateral, uma vez que dois terços dos mais de três mil quilômetros de fronteira correspondem a vias navegáveis (Rio Grande e Rio Colorado). Todos os anos o território mexicano “ repassa” aos Estados Unidos 431,7 milhões de metros cúbicos dos afluentes do Rio Grande. Por outro lado, o México recebe 1.850 metros cúbicos de água do rio Colorado anualmente.
Em 1944, os dois países assinaram um tratado de compartilhamento de águas que regulamenta a gestão compartilhada.
Há cerca de 7 décadas EUA e México usam a diplomacia para a gestão compartilhada de recursos hídricos cada vez mais escassos na região da fronteira.
Para arbitrar possíveis conflitos de uso e exploração de águas internacionais na fronteira foi criada a Comissão Internacional de Bordados e Água (CILA) México-Estados Unidos.
Mesmo assim, secas prolongadas e outros fenômenos climáticos têm criado tensão entre os dois países. Em 2002, por exemplo, os agricultores do Texas acusaram os produtores de Chihuahua de roubar grandes volumes de água, enquanto o México argumentou que a seca impediu o cumprimento dos compromissos assumidos com os EUA. O conflito chegou a tal ponto que, na época, foi objeto de uma agenda entre os presidentes Vicente Fox e George Bush.
Simulações climáticas globais preveem que o sudoeste dos Estados Unidos e o noroeste do México (uma região que já está quente e árida) serão ainda mais quentes e mais secas no futuro, o que pode exacerbar a concorrência por água na região.
A água pode estar no centro das guerras no futuro. Especialistas (e até mesmo Banco Mundial) acreditam que as guerras, hoje motivadas pelo petróleo, podem acontecer pela disputa dos recursos hídricos. As Nações Unidas alertam que até 2025, a água disponível e adequada para o consumo humano será bastante reduzida e a escassez é prevista como uma nova ameaça.
A disputa dos agricultores do norte do México e do sul dos EUA é, historicamente, uma realidade. A gestão da agenda binacional de água entre o México e os Estados Unidos baseia-se em marcos jurídicos claros mesmo havendo grandes possibilidades de conflito. Até agora, a força da água os une mais do que os separa.
Atualmente (e midiaticamente) as agendas migratórias e econômicas estão no centro da atenção e na discordância entre os dois países. Mas a verdade é que a água não reconhece as fronteiras e obriga que EUA e México busquem cooperação. Eles precisam um do outro para gerir e compartilhar bacias transfronteiriças. Desta convivência harmônica depende a sobrevivência humana e agrícola de cidades importantes para os dois países.
O modelo de hidro diplomacia entre Estados Unidos e México, que sobrevive desde 1944 de forma bem-sucedida pode ser uma boa referência para consolidar outras agendas importantes.
Fórum Mundial da Água vai tratar do compartilhamento
Conflitos de nações tendem a crescer na mesma proporção em que a água se torna escassa. Neste contexto, a hidro diplomacia vem tomando lugar de destaque nas relações entre os países ou regiões. O Conselho Mundial da Água (World Walter Concilia) escolheu “Compartilhamento” como tema do 8º Fórum Mundial da Água, o maior evento do mundo sobre recursos hídricos. O 8º Fórum da Água acontecerá em Brasília de 18 a 23 de março de 2018. Esta será a primeira vez que o hemisfério sul sediará o evento.
A fronteira entre os Estados Unidos e México
A fronteira internacional entre Estados Unidos e México estende-se desde San Diego, na Califórnia, e Tijuana, na Baixa Califórnia, a oeste, Matamoros, em Tamaulipas, e Brownsville, no Texas, a leste. Ela atravessa uma variedade de terrenos, percorrendo desde grandes áreas urbanas até desertos inóspitos. Do Golfo do México ela segue o curso do Rio Grande até El Paso, no Texas, e Ciudad Juárez, em Chiruahua.
A extensão total da fronteira é de 3141 km, de acordo com a Comissão Internacional de Limites e Águas. Talvez seja a fronteira internacional mais frequentemente cruzada do mundo, com aproximadamente 10 milhões de pessoas atravessando-a legalmente todo o ano.
A região é caracterizada pela presença de pássaros, homens, árvores, montanhas rugosas, claridade abundante e por dois grandes rios: o Colorado e o Rio Grande.
Os estados estadunidenses situados ao longo da fronteira, de oeste para leste, são: Califórnia, Arizona, Novo México e Texas.
Os estados mexicanos: Baja California, Sonora, Chihuahua, Coahuila, Nuevo León e Tamaulipas.
Fonte: Texto publicado no site do Cambio de Michoacán,