O fenômeno que atraía a atenção de cientistas, ambientalistas e turistas do mundo inteiro estava extinto no Amapá, resultado da ação do homem. Contrariando todas as expectativas, a pororoca do rio Araguari está de volta.
O surfe na pororoca do Araguari atraía turistas do Brasil e do mundo; era palco de importantes competições. Agora, de volta!
Contrariando alguns órgãos, profissionais e especialistas ambientais, que apontavam o fim de um dos fenômenos naturais mais conhecidos do Estado Amapá, a pororoca está de volta. Novas rotas das ondas – consideradas as mais longas em duração – estão sendo encontradas na Vila do Sucuriju, localizada na Reserva Biológica do Lago Piratuba, na foz do rio Araguari, costa leste do Estado.
A pororoca havia desaparecido nos últimos anos. As possibilidades levantadas por especialistas para o fim do fenômeno são a soma de três fatores: a construção de três hidrelétricas no rio Araguari, a abertura de canais para levar águas a fazendas e a degradação causada pelo pisoteio de búfalos na região.
Agora, com a volta do fenômeno, o governo do Estado do Amapá apressou-se em providenciar um levantamento de dados que servirá de base para criação do Plano de Recursos Hídricos da Bacia do rio Araguari e do Comitê da Bacia Hidrográfica do Araguari. Desta maneira propõe-se a subsidiar ações que visam diminuir impactos ambientais e potencializar o ecoturismo no Estado.
Fim irreversível da pororoca foi anunciado em 2015
No ano de 2015, especialistas chegaram a anunciar o fim da pororoca no rio Amapá como um fenômeno irreversível; sofreu danos causados pela ação do próprio homem com o represamento e a criação de búfalos ao longo das margens do rio, que corta sete municípios amapaenses. O Instituto Chico Mendes (ICMBio) avaliou, na época, que a pecuária foi a responsável pela perda de força do Araguari diante do oceano por causa de canais que foram abertos no curso do rio. As valas fizeram a transposição da água e secou a foz. Por sua vez, a Federação de Pecuária do Amapá rebateu e pontuou que as três hidrelétricas são responsáveis pela degradação do rio. Existem duas em operação e uma em construção no Araguari.
"Essa perda da pororoca de forma brusca ocorreu pela ação do homem e nesse trecho é impossível a gente ter o fenômeno, mas somente a natureza pode dizer isso", avaliou em 2015 o doutor em geologia marinha Admilson Torres, do Instituto Estadual de Pesquisas do Amapá (Iepa). "A pororoca não tem mais jeito. Toda a água que iria de encontro com o oceano, não vai mais. A cada dia, a tendência da foz secar é ainda maior com o aparecimento até de capim e desertificação", afirmou, também naquele ano, Antônio Feijão, CEO da Amazon Global, instituto que estuda o comportamento ambiental da foz do rio Araguari.
Surfando na pororoca
O estado do Amapá chegou a alcançar o posto de referência nacional da prática do surfe na pororoca. As ondas do Araguari ganharam notoriedade por terem sido consideradas as mais longas em duração no planeta. A pororoca é um fenômeno caracterizado por ondas formadas pelo encontro das águas do rio Araguari com a do oceano Atlântico. No Amapá, ela chamou atenção de várias partes do mundo. Para comparar a força que tinha o Araguari, a queda do curso da água nos 200 quilômetros entre nascente e a foz tem altura de 80 metros, enquanto do rio Amazonas, a partir de Manaus ao oceano, no Amapá, a altura máxima é de 16 metros entre mais de mil quilômetros de extensão no referido percurso.